Jean desce do barco e caminha pelo porto, acostumando novamente o seu corpo a andar pela terra. Não nota nada que lhe salta à vista enquanto caminha e olha os vários artigos sendo comercializados e relembra o passado, se lembrando do tempo, que agora parece distar uma vida, em que praticamente tudo o que queria podia ser dele.
Seu plano a médio prazo: perguntar a alguém que eu suponho que poderia me dar essa informação (um taverneiro ou mercador mais simpático com tempo para conversa) onde pode-se arranjar trabalho para um marinheiro e soldado espadachim.
Mas agora, vamos ao desjejum.
Conta as moedas e verifica que ainda possui 10 moedas de cobre. Resolve se encaminhar para a espelunca mais cheia de pessoas pobres, trabalhadores braçais e mesmo mendigos, pois ela significará, provavelmente, comida mais barata. Pouco depois, ao se aproximar de uma barraquinha suja, cheia de moscas, rodeada de pessoas de aparência pobre, e mendigos, vê um mendigo goblin que lhe pede uma moeda de cobre em ajuda, dizendo ter fome.
(Jean já está agora em frente à barraca de comida, mas não consegue discernir direito o tipo de comida que é vendido lá, pois há uma quantidade razoável de goblins se aglomerando próximo ao balcão. Jean nota que não há humanos comprando nessa barraca, mas até aí, essa é uma cidade com população de cerca 2/3 de goblins).
Embora seu rosto prossiga com a sua habitual expressão dura, Jean se compadece do pobre esfomeado e lhe passa duas moedas, perguntando em voz baixa:
-“Isso compra uma refeição?”
Ele olha assombrado para as duas moedas e a seguir para você, como que deslumbrado. E lhe responde:
-Muito obrigado meu senhor! Faz muito tempo que ninguém é tão generoso comigo! Normalmente eles só me dão restos para comer. Muitíssimo obrigado!
Então Jean pergunta:
- "Gostaria de comer em minha companhia? Estou por aqui à procura de trabalho, e você, como nativo da cidade, poderia me ajudar..."
Ele, com os olhos ainda mais deslumbrados, responde empolgado:
- Além dessas moedas, o senhor ainda irá me comprar uma refeição? Muitíssimo obrigado meu senhor! Com certeza eu gostaria de comer em sua companhia e de lhe ajudar no que eu puder!
A atitude dele é quase de reverência no momento, se curvando diante de Jean.
Jean percebe que as pessoas ficaram olhando pra eles após a reação entusiástica do pobre mendigo, ao que Jean responde, dizendo ao mendigo:
- "Por favor, aprume-se. Você não me conhece tão bem assim para ser tão gentil. Vamos ver o que posso adquirir para nós nesta barraca com as moedas que me restaram".
Então Jean se aproxima mais da barraca, tentando conseguir algo para comer. Quando chega sua vez, ele fala ao vendedor:
- "O que posso conseguir por oito moedas de cobre? Para mim e para meu companheiro?"
O vendedor ri um pouco de sua cara.
- Rapá, Que vuntadi mi deu agora di ti cobrá 8 pila pelus doix lanchix. É só uma moedinha u compretu moçu. Tomi, doix >Algum nome de comida incompreensível< i doix sucux. Si tu quizé raçãu pra viagi, o manu aqui do lado vendi por um pila cada. Jean se esforça pra entender o linguajar estranho do sujeito, recebe os dois sucos e os dois lanches de nome incompreensível. Jean olha pra comida e não consegue discernir o que é e o cheiro não é exatamente saboroso, na verdade parece algo bem estranho, mas pelo menos, a princípio, não parece ser algo que esteja estragado. Jean se aproxima do mendigo, que está sentado na beirada ca calçada na beira da região das barraquinhas, olhando para a área de desembarque do porto. Jean se senta do lado dele e lhe passa o lanche com o suco e, enquanto senta e passa o lanche, começa a falar: -“Havia lhe perguntado antes, e repito a pergunta: há algum lugar aqui, que você conheça, onde um soldado e marinheiro possa arrumar trabalho? Creio que, a não ser por minha espada, após este desjejum, serei um homem pobre, e não pretendo permanecer assim.” Antes de responder, ele olha pro lanche maravilhado. -Oh, muito obrigado, adoro >mais uma vez você não entende o nome da comida<, faz tanto tempo que não como um desses. Muitíssimo obrigado. Achei que você humanos não gostassem disso. O paladar de vocês é tão estranho às vezes. Vocês viajam pra longe atrás de pozinhos e plantinhas insossos (especiarias), mas não conseguem saborear essa deliciazinha aqui. Você é o primeiro humano que eu vejo comprando um desses. Você já comeu antes?
A seguir ele começa a comer o lanche vorazmente (nem tanto a seguir, na verdade ele começou a comer logo após a segunda frase, intercalando as frases com as bocadas que ele dava no lanche.
Pouco após ele acabar de falar a maravilha que era o lanche goblin, ele termina o lanche, você ainda não começou a comer o seu, ainda está olhando com um pouco de dúvidas pro lanche estranho.
Ele olha pra Jean e pro lanche com um sorriso de expectativa.
Após ouvir todo o relato empolgado do goblin a respeito da comida, Jean comenta:
- "Na verdade, vou experimentar hoje. Perdoe se meu paladar não for refinado o suficiente, sou apenas humano."
Então Jean come o lanche, o sabor é um tanto desagradável, um pouco menos do que esperava, mas, afinal de contas, Jean passou fome naquele barco e não há tempero melhor do que a fome.
Enquanto come, o mendigo goblin se lembra de sua pergunta e começa a falar.
-Você me perguntou de trabalho, não? Faz tanto tempo que não trabalho. Um sujeito detestável armou pra mim em meu antigo emprego, ele fez todos acharem que eu havia roubado um artefato muito querido de meu antigo patrão. Eu fui expulso de meu antigo emprego e ninguém nessa cidade me dá emprego nenhum desde então. De vez em quando alguém me dá um resto de comida e só, acho que não porque se importem, mas só pra prolongar a minha vida de agonia mesmo.
-Quanto a você, certamente que deve arrumar trabalho. Acho que a maioria desses navios que estão chegando devem precisar de um marinheiro ou dois. Afinal de vez em quando o mar cobra a vida de algum marinheiro. Se você procura um navio um pouco mais confortável do que a média, o GabrOOk é uma boa pedida, mas não sei se eles estão procurando marinheiros, ele aportou há bem pouco tempo.
-Muitos deles precisam de soldados , mercenários ou guarda-costas também, pois os ataques dos piratas ocorrem em escala não desprezível. Hmmm... parece que Sanjar* está na cidade também, mas não sei ao certo o que ele veio fazer aqui.
*Ao contrário de Devon, que é do continente de Mégalos (e reptante), Jean, que é de Araterre, nunca ouviu falar de Sanjar, não faz muita idéia de quem seja ele.
Nesse momento, Jean acaba sua refeição, pede para o mendigo aguardar um momento e se dirige à barraquinha onde comprou os lanches, onde dá uma moeda a mais para o dono da barraca:
- "Agradeço por não ter se aproveitado de minha ignorância. Pena que não posso recompensar sua honestidade com mais do que uma simples gorgeta".
- Quê isso sô! Precisava não! Mas se o sinhô tá si sintinu generosu mermu, num vô recramá, não! Brigadu, viu? Vorte sempri!
Após esse aparte com o dono da barraca, Jean volta a se sentar com o mendigo para continuar a conversa.
(Nesse meio tempo Jean percebe que há guardas andando pelo porto, aparentemente fazendo perguntas para as pessoas, com papéis na mão. Eles estão perto dos navios (há dois a uma distância não muito grande do navio do qual você desembarcou, no ancoradouro ao lado.), longe de vocês. Da distância em que se encontram, não dá pra ouvir nada, nem ter idéia do que são tais papéis.)
- "Bem, você está desempregado e admite ter uma reputação ruim não merecida... mas conhece o território, e eu não, e parece ser bom falante e conhecedor de mais de um assunto. Gostaria de empregar-se como meu criado enquanto eu ficar pela cidade, ou por mais tempo, se decidir me acompanhar quando eu me for? Não prometo grandes pagamentos fixos agora, porque não disponho de grandes recursos no momento. Mas prometo que lhe darei uma parte justa do dinheiro que eu conseguir ganhar, e dividiremos igualmente a comida, mesmo que seja para passarmos fome juntos. E também defenderei sua vida enquanto seguir minhas ordens, sem jamais pedir-lhe que arrisque a sua por mim ou faça algo que vá contra sua honra ou exceda sua capacidade, pois todos temos um limite. Mas preciso de alguém com mais experiência de mundo do que eu e parece que não tens nada melhor por enquanto".
-Ora meu senhor, nem precisava de tanto, qualquer coisa é melhor do que viver nessa miséria e mendicância. Trato feito, sou seu servo e criado de agora em diante.
- "Estamos acertados, então. Mas agora satisfaça minha curiosidade: quem é este indivíduo de nome peculiar que mencionaste? E de que negócios trata o barco Gabrook?"
O goblin responde:
- Oh meu senhor, então não conheces Sanjar? Ele é um reptante, membro importante da guarda do imperador. E, eu não sei o que Gabrook está comercializando no momento, ele comercializa especiarias na maior parte do tempo, pelo que sei, mas é contratado por alguns nobres quando eles precisam de algo específico também. Mas ao que me consta, ele é um barco muito bem equipado, parece que nele há um clérigo que não deixa faltar comida a ninguém na embarcação.
Jean diz o seu nome e pergunta o dele.
-Oh, meu nome, faz tanto tempo que não o digo, nem o ouço, só xingamentos e maltratos ouço sempre. Pois bem, muito prazer senhor Jean, meu nome é Naron Utak.
- "Pois bem, Naron, vamos ao Gabrook primeiro, falar com alguém e, se algo der errado, ao próximo navio e assim por diante... tens problemas com a vida no mar? Se por acaso souber ou lembrar de oportunidades de trabalho em terra, igualmente não me oponho."
Jean levanta-se e pede que Naron indique o caminho.
http://mares-de-araterre.blogspot.com/2011/08/jean-cena-1-parte-2b.html
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